Ao analisar o sabor de alimentos como o chocolate, cientistas identificaram substâncias semelhantes às usadas para tratar transtornos psiquiátricos.
A noção de que comer certos alimentos para melhorar a sensação de tristeza é uma forma de automedicação vem ganhando força depois que os cientistas identificaram alguns ingredientes cuja química é muito similar a de medicamentos estabilizadores de humor amplamente prescritos pelos médicos.

“A tendência para a depressão em suas diversas formas tem aumentado devido à nossa sociedade estressada, [e] os antidepressivos são eficazes para 50% a 60% dos pacientes”, diz a autora do estudo, Karina Martinez-Mayorga, que iniciou a pesquisa enquanto ainda atuava no Institudo de Estudos Moleculares Torrey Pines, em San Diego (EUA) – ela integra agora o Instituto de Química da Universidade Nacional Autônoma do México.
“Tudo isso sugere a necessidade de estratégias novas e criativas para melhorar a tristeza”, afirma ela, enfatizando que o principal interesse da pesquisa sobre sabores foi melhorar o humor em pessoas normais e saudáveis durante períodos de tristeza e não em quem sofre de depressão clínica .
Martinez-Mayorga e sua equipe usaram a quimioinformática, que consiste no uso de computadores para examinar as estruturas químicas de mais de 1.700 ingredientes de sabor de alimentos em busca de semelhanças com antidepressivos e outras substâncias com efeito antidepressivo.
Embora não tenha querido pontuar nenhum ingrediente específico durante a apresentação da pesquisa no encontro da Sociedade Americana de Química – os resultados são preliminares e o estudo ainda não foi concluído, revisado e publicado em um periódico especializado – a equipe informou que alguns têm uma semelhança química impressionante com o ácido valpróico. Também usado para tratar convulsões, o ácido valpróico ajuda a estabilizar os sintomas maníacos associados ao transtorno bipolar , doença marcada por períodos de depressão alternados com mania.
As pesquisas feitas pelo grupo de Martinez-Mayorga focam em mudanças menos severas de humor. Portanto, observa a pesquisadora, pessoas que tomam antidepressivos devem seguir com a prescrição médica. A equipe argumentou, no entanto, que futuros estudos podem sim, resultar em recomendações dietéticas ou novos suplementos nutricionais com efeitos positivos sobre o humor.
Para Sharon Zarabi, nutricionista do Hospital Lenox Hill, em Nova York, os resultados do estudo não foram propriamente uma surpresa, dado o crescente mercado de suplementos, que busca identificar nutrientes essenciais e transformá-los em pílulas ou extratos.
Ela lembra que a noção de que vários grupos de alimentos têm efeitos na modulação do humor já é bem estabelecida. Por exemplo, já se sabe que as proteínas da carne, do peixe, das aves e dos ovos aumentam os níveis dos “hormônios do bem-estar”, afetando a atenção e a energia. Da mesma forma, acrescenta a nutricionista, carboidratos não refinados elevam os níveis de um neurotransmissor do cérebro que diminui a dor e acalma.
“Eu, pessoalmente, acredito que tudo que você come afeta o modo como você se sente”, diz ela, acrescentando que sempre incentiva seus pacientes a procurar nutrientes essenciais de alimentos integrais.
“Não precisamos de suplementos e pílulas, precisamos de comida. Por isso, se cuidarmos da nossa alimentação para que ela nos dê energia ao longo do dia, certamente ao mesmo tempo estaremos recebendo os nutrientes adequados para a produção das substâncias do bem-estar.”
Como este estudo foi apresentado em uma reunião médica, os dados e conclusões devem ser vistos como preliminares até que ele seja publicado em um jornal científico, que é revisado por outros cientistas da área.
* Por Maureen Salamon