São quase 16 mil quilômetros de ruas, 15 mil ônibus, 74 km de linhas de metrô, 950 unidades de saúde e mais de 30 mil leitos hospitalares. Apesar de todo o gigantismo da cidade de São Paulo, a oferta de infraestrutura na capital não acompanhou o crescimento da demanda por serviços e espaços públicos. Resultado: as filas e as superlotações se tornaram os maiores vilões dos paulistanos.
Da espera de até seis meses por um exame de ultrassom ou tomografia aos congestionamentos recordes em avenidas e até em corredores de ônibus, os moradores da maior cidade do país se queixam do tempo perdido, muitas vezes em pé no corredor de um pronto-socorro ou e espremidos dentro do transporte coletivo sem ar-condicionado.
Não à toa, saúde (26%) e transporte (15%) estão entre os três principais problemas da cidade para os paulistanos, segundo pesquisa Datafolha divulgada em junho. Segurança foi mencionada por 16% dos entrevistados. Mas como o policiamento é de responsabilidade do governo do estado, as cobranças do eleitor da capital se voltam nesta eleição para mais e melhores unidades hospitalares e meios de locomoção.
A estressante rotina dos paulistanos começa cedo, logo ao sair de casa. Um levantamento feito pelo Ibope e divulgado este mês pela Rede Nossa São Paulo revela que os moradores da capital gastam, em média, cerca de duas horas e meia em seus deslocamentos diários, independentemente do meio de transporte utilizado. Cerca de 30% gastam uma hora e meia ou mais apenas no trajeto para o trabalho.
PROBLEMAS DA CIDADE
- Futuro prefeito de Porto Alegre tem o desafio de diminuir espera para consulta
- Próximo prefeito herdará sistema de saúde avaliado como o pior problema de SP
- Recife sofre com áreas de risco e centro malcheiroso
- Candidatos enfrentam trânsito, ônibus lotado e falta d'água e de transporte em Manaus
- Natal tem degradação de cartão-postal, e eleitores reclamam de buracos nas ruas
- Trânsito é grande desafio para o novo prefeito de Salvador
- Natal tem degradação de cartão-postal, e eleitores reclamam de buracos nas ruas
É o caso do ascensorista Douglas Menezes, 31, que leva duas horas entre a sua casa, em Cidade Tiradentes, zona leste, e o hospital onde trabalha, na região central da cidade. “A volta é ainda pior. Chego a demorar mais de três horas até em casa. Os ônibus vêm lotados e tenho que ficar esperando até três deles para conseguir subir”, afirma.
Menezes faz parte dos 80% de paulistanos que, segundo o Ibope, consideram o trânsito da cidade ruim ou péssimo e que citam a modernização das linhas de metrô, trem e ônibus como medida a ser adotada para melhorar a mobilidade urbana na capital.
“Precisa colocar mais ônibus. Ele sempre vem cheio e raramente consigo sentar, inclusive aos sábados”, compartilha a operadora de telemarketing Renata Abreu, 32, que, apesar do trajeto até o trabalho no centro demorar mais de uma hora prefere deixar o carro em casa, em Cidade Ademar, zona sul. “Acho que de carro é pior porque é caro para estacionar”.
Mas nem todo mundo faz como Renata. De acordo com o Ibope, mais de dois milhões de paulistanos utilizam o carro todos os dias ou quase todos os dias para se locomover. Ocorre que 65% deles declaram que deixariam de usá-lo se houvesse uma boa alternativa de transporte.
A razão disso é percebida diariamente nos engarrafamentos em ruas e avenidas da cidade. Neste ano, o trânsito da capital no horário de pico da tarde, o mais problemático, piorou 26% em relação a 2011, segundo dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Entre as 17h e 20h, os congestionamentos cresceram, em média, de 63 quilômetros para 80 quilômetros.
Para o consultor em transporte Sérgio Ejzemberg, o único jeito de convencer essa enorme fatia de paulistanos a deixar o veículo na garagem é o investimento maciço em transporte de massa. “Não há outra saída a não ser investir pesado em metrô e em corredores de ônibus como um sistema complementar. Nós temos 6,8 km de metrô por milhão de habitante, enquanto Nova York tem 45 km”, afirma.
Como a construção de linhas de metrô é de competência do governo estadual, cabe à prefeitura investir, principalmente, nos corredores e na frota de ônibus. A meta da gestão Gilberto Kassab (PSD) era entregar no fim deste ano 66 km de corredores, entre eles 8 km em Santo Amaro (zona sul), 17 km na Radial Leste e 14 km no Aricanduva (zona leste), mas as obras sequer começaram.
Em nota, a Secretaria Municipal de Transportes informou que todas as obras de corredores de ônibus estão em fase de licitação e que já implantou 62,5 km de faixas exclusivas de ônibus à direita entre 2011 e 2012, de mais de 100 km previstos. “O objetivo é aumentar a velocidade média dos ônibus em 15 %, diminuindo o tempo de viagem, o que equivale à inclusão de 2.250 ônibus no sistema, sem sobrecarregar o sistema viário da cidade”, afirma.
Além disso, prefeitura a informou que, entre 2006 e 2012, a demanda de passageiros cresceu 10,5% e a oferta de lugares, 13,7% e que já aplicou R$ 1 bilhão na expansão de rede do Metrô com repasses à empresa do governo do Estado. “O Metrô leva cerca de 60 mil pessoas por hora, enquanto o sistema de ônibus leva 20 mil/hora”, explica.
Angústia na saúde
No sistema de saúde municipal, a fila é ainda mais angustiante. O autônomo Roberto Blasques, 65, teve de esperar por mais de 60 dias para uma consulta com um neurologista após ter desmaiado na calçada no dia 12 de julho. “Senti tontura e desmaiei. Me socorreram para a AMA do Tatuapé (zona leste) e pediram esse exame. Até agora não sei o que tenho”, conta.
Caso semelhante viveu a sobrinha de seis anos da babá Francisca Fernandes, 42, que esperou mais de um mês para fazer uma tomografia após machucar o braço numa queda. “Eu tive que marcar num pronto-socorro lá no centro porque era o mais rápido”, relata a moradora da região de Cidade Dutra (zona Sul).
Segundo dados da Rede Nossa São Paulo, a região de Francisca, no extremo sul da cidade, tem apenas 167 leitos hospitalares (entre públicos e privados), o que dá 0,85 para cada mil habitantes, um dos piores índices da capital. Para efeito comparativo, a região da Bela Vista, no centro, tem 2.786 leitos, ou 39,88 por mil habitantes.
Próximo à Cidade Dutra deveria ser construído o hospital de Parelheiros, um dos três hospitais prometidos por Kassab na campanha de 2008. Todos, porém, ainda estão na fase de elaboração do projeto, que pode ser executado em parceria com a iniciativa privada.
A Secretaria Municipal da Saúde não respondeu ao contato da reportagem.